terça-feira, 1 de março de 2022

Livros proibidos

 



"A minha censura é melhor do que a tua!"

É o que penso quando leio o título desta notícia: “Livros proibidos: o que está a acontecer nas escolas dos EUA?”

A indignação parece assaltar a autora da notícia ao ver obras como “All Boys Aren’t Blue”, “Gender Queer”, “O Conto de uma Aia” ou até “Maus: a história de um sobrevivente” na lista de livros que os pais exigem que sejam retirados das bibliotecas das escolas, por, alega, abordarem temas de sexualidade, identidade sexual ou de género.

Convenhamos que os livros que os pais desejam ver fora das bibliotecas das escolas, nos EUA, tirando “Maus – A História de um sobrevivente” cujo tema e conteúdo me parece ser de leitura obrigatória para todos – a fim de que o holocausto nunca se repita - são livros de cariz puramente ideológico, com imagens pornográficas e palavrões, impróprios para menores de idade, que têm provocado imensa confusão na mente dos mais novos e que têm vindo a fazer disparar o número de crianças confusas quanto à sua identidade/sexualidade.

January Littlejohn, mãe de três filhos, mora em Tallahassee, Flórida, e a sua confiança na escola foi completamente destruída quando a sua filha de 13 anos confessou ter feito um acordo com a escola, sem conhecimento dos pais, para iniciar a sua “ transição de género”. Em guerra aberta com a escola, ela alertou os outros pais: "Se esperarem que a ideologia de género chegue às vossas casas, será tarde demais. Devemos agir. A ideologia de género quase destruiu minha família."

A mãe de três filhos descreve o processo infernal desencadeado nas suas costas, mediante o qual a sua filha – que nunca havia demonstrado qualquer sinal de estar confusa quanto à sua sexualidade - pôde iniciar, protegida pela lei (cá, é a Lei 38/2018), a sua transição de género. Tudo começou antes da pandemia, quando o grupo de amigos da adolescente “estava obcecado com coisas relacionadas à comunidade LGTBQIA+”.

Convém lembrar que a ideologia do género já foi implementada nos currículos escolares dos EUA há anos e que, em 14 Estados, cresce um movimento de pais que exige a retirada de livros que destroem a percepção e bom senso das crianças.

Gender Queer? Para crianças?

A teoria Queer é a base da ideologia de género. Promove areorientação sexual e a desconstrução da heterossexualidade, ou seja, dafamília. Queer é uma expressão que provém do inglês e designa aquelas pessoas que não seguem os padrões da heterossexualidade ou o binário de género: homem e mulher. Inicialmente, era uma gíria inglesa que designava “pessoa estranha, meio esquisita”. Depois, passou a ser empregada para representar “gays”, lésbicas, bissexuais, transgéneros ou transsexuais. Actualmente é usada para referir o estudo da orientação erótica e identidade sexual ou de género dos indivíduos como o resultado de uma construção social e não decorrente do nascimentobiológico.

Os pais americanos querem proteger os seus filhos do ensino do género como uma 'construção social', que incute nas crianças que “homem, mulher e família, pai e mãe, sexualidade e fertilidade não são conceitos naturais, mas que apenas determinam a hegemonia dos homens sobre as mulheres e da heterossexualidade sobre todas as outras formas de sexualidade.”[1] 

No estado do Oklahoma, por exemplo, um projecto de lei pretende proibir - nas escolas - todos os livros que abordem sexualidade, identidade sexual ou de género. Na Carolina do Sul, o governador pediu que se investigasse a presença de “materiais “obscenos e pornográficos” – e deu como exemplo o livro “Gender Queer”.

“Quem quer proibir livros nas escolas e porquê?” – Pergunta a autora.

E eu pergunto: Onde estava a indignação da autora quando “Escolas queimaram livros do Astérix e do Tintin por ofensa a indígenas no Canadá”? Onde está a sua indignação quando a “Disney cede a críticas e exclui anões daBranca de Neve”?

Eu li os livros do Asterix e do Tintin e não percebi que houvesse ofensas a ninguém. Os anões da Branca de Neve? Ofensa a pessoas anãs? Desde quando? Os militantes da cultura do cancelamento podem censurar, mas não admitem ser censurados?

Nos EUA há cada vez mais pais a unir-se contra a ideologia de género e a teoria crítica da raça nas escolas. O republicano Glenn Youngkin fez das escolas, e particularmente do seu controlo parental, o seu assunto final para vencer o democrata Terry McAuliffe na disputa para governador da Virgínia. Entre Setembro e Outubro, o peso da educação subiu 9 pontos passandoa ser a principal questão para os eleitores. Os pais queriam ter mais influência nas escolas e venceram. Em Nova Jersey, o republicano Jack Ciattarelli também se levantou contra o ensino da teoria crítica sobre a raça nas escolas e quase derrotou o democrata Phil Murphy. Entre os pais que se têm levantado contra a sua expropriação da educação dos filhos está o “No Left Turn in Education” – “Não virem a educação à esquerda” – que considera que estes e outros livros “são usados para espalhar ideologias radicais e racistas entre os estudantes“, cita o The New York Times.

Não defendo que se censurem livros, mas defendo que há livros que são prejudiciais para crianças e que estas não devem ser confundidas e erotizadas com práticas sexuais de adultos. As crianças não devem ser constantemente assediadas com conteúdos sexuais, e a escola não pode interferir com o direito dos pais escolherem a educação que dão aos filhos. Se há pais que querem que os seus filhos tenham acesso livre a obras como “All Boys Aren’t Blue” e “Gender Queer”, que as adquiram e ofereçam aos filhos.

Os direitos dos pais devem ser fundamentais para a protecção e segurança dos filhos. As escolas devem voltar a ser instituições de ensino e não linhas de montagem de doutrinação política/ideológica.

A educação das crianças não pode ser determinada por políticas influenciadas por ideólogos como Judith Butler, omnipresente nos guiões e manuais de género e cidadania, que decidiu que “não existem homens nem mulheres, que o sexo biológico é uma fantasia, algo em que só acreditamos porque nos foi repetido com frequência, que o género não está associado ao sexo biológico, que não desempenha nenhum papel – apenas surge porque foi criado pela linguagem e porque as pessoas acreditam no que ouvem repetidamente - que toda a identidade é fluída, que não há masculino nem feminino, mas apenas um determinado desempenho, ou seja, um comportamento que pode ser alterado a qualquer momento.” 

Isto, claro, sempre que não inclua um regresso à heterossexualidade. Isso, definitivamente, é que não.

Termino com as palavras de C. S. Lewis:

«O poder do homem para fazer de si mesmo o que bem entender significa, como vimos, o poder de alguns para fazer dos outros o que bem entenderem.»

 




[1] Judith Butler, Bodies That Matter, Nova Iorque, Routledge, 1993, 21.


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