E se eu lhe disser que a ideologia de género não passa de
uma ferramenta estatal para desconstruir a identidade da pessoa e que essa
subversão começa pelo esfacelamento dos seus caracteres mais próprios.
Imposta por meio de leis, como a Lei 38/2018, colocada em
prática a ideologia de género é especialmente perniciosa para a Mulher e para
as suas conquistas ao longo dos séculos. Não deixa de ser uma insanidade o
facto de terem sido feministas, que supostamente lutavam pelos direitos das
mulheres, as artífices dessa subversão.
Simone de Beauvoir, em 1949, publicou o livro O Segundo Sexo. Mais vendido e lido
hoje, do que quando foi editado, contém a base do discurso feminista que se
gerou desde então e chegou aos nossos dias: “Ninguém nasce mulher, torna-se
mulher.”[1]
Esta é uma declaração filosófica que mudou o discurso
feminista, pois, antes de Simone de Beauvoir o feminismo entendia que a
definição da mulher era biológica e, portanto, natural. Nascia-se mulher. Se
não se nasce mulher, a biologia não é um factor determinante na hora de captar
a essência do feminino e a biologia fica fora da configuração da identidade
feminina, porque “não se nasce mulher”. Ou seja: tudo o que trago no
nascimento, tudo aquilo com que a natureza me dotou, não é relevante para a
minha condição de mulher. Assim, o que será relevante para a minha condição
feminina – fêmea, mulher – será adquirido: “torna-se mulher “.
Adquirido sob o quê?
- Sob a culttura. Mas não qualquer cultura, e sim sob uma
cultura sujeita ao império se um sistema denominado como patriarcado.
Que é dominada por quem?
- Pelo primeiro sexo. Se a mulher é o segundo sexo, o homem
é o primeiro sexo – na escala hierárquica – e é ele que domina o sistema
social, político e económico, e que faz com que “isso”, que não é uma mulher
desde o nascimento, se converta no sujeito oprimido, numa mulher.
Ora, se isto é assim, o que tem que se fazer para libertar a
mulher é atacar as pressuposições culturais desse sistema, que fez de algo que
não tem uma essência natural – que é a mulher – uma mulher.
Essa é a estratégia feminista inaugurada naqueles dias e
que, passando por muitas instâncias, chegou até aos dias de hoje.
Kate Millett deu continuidade à ideia. Nos anos 70, nos EUA,
com o surgimento do feminismo radical, Kate publicou o livro Politicas Sexuais, amplamente
reconhecido devido à declaração “o
pessoal é político”, frase muito usada nos nossos dias para politizar
aquilo que é pessoal.
Infelizmente, muitos olham para a frase de Millett como uma
declaração de liberdade, quando é exactamente o contrário. Ao tornar político o
que é pessoal, íntimo, a fronteira entre o espaço publico e o espaço privado é
derrubada. E, se a fronteira que separa o pessoal, o íntimo - como a
sexualidade - do público, cai, o sistema político invade o que antes era a
nossa privacidade/intimidade.
Quem diria que a sexualidade se tornaria um assunto
político?
- Sim, hoje, a sexualidade deixou de ser do foro íntimo,
privado, e tornou-se um assunto político. Três exemplos:
1) A
EIS [Educação Integral em Sociedade], que não só instrui a respeito da
realidade biológica da sexualidade humana e como prevenir DST’s, como incorpora
um sistema moral, baseado no género, que confunde e adoece os menores, só pode
ser aceita se entendermos que a sexualidade é um assunto político, do Estado, e
que são os políticos que devem elaborar o plano educativo dos nossos filhos
quanto à sua sexualidade.
2) Pobreza
menstrual. Um trocadilho que redefine a menstruação como uma espécie de
opressão do patriarcado, pois, uma vez que os homens não menstruam é preciso
que o Estado faça “justiça social” e que os pensos higiénicos e os tampões –
para as mulheres oprimidas - sejam pagos com dinheiros públicos.
3) A
bandeira mais poderosa da política contemporânea: a bandeira multicolor. Sim, a
bandeira política mas relevante dos últimos anos é a bandeira LGBTQIA+ e é
política porque se iça nos Paços do Concelho, no edifício das Nações Unidas e
em algumas Embaixadas. Mas, também é uma bandeira sexual que remete a
orientações sexuais. Portanto, política e sexualidade confundiram-se
completamente e isto não é uma libertação, mas sim uma intromissão do poder
político na sexualidade humana.
Em 1980, Monique Wittig foi a peça chave para inaugurar
aquilo que mais tarde se chamará Teoria Queer.
Wittig, no seu livro O Pensamento
Heterossexual, disse que a lésbica
desempenhava um papel fundamental e que isso acontecia por dois motivos: 1. Se
dizemos que o patriarcado é o domínio do homem sobre a mulher e se nos queremos
libertar do homem, não podemos manter uma relação amorosa com um homem. O
lesbianismo, antes de ser uma orientação sexual, é uma estratégia política. 2.
Fomos enganados quando nos disseram que só há dois sexos – homem e mulher –
pois a lésbica não é homem nem mulher, é lésbica.
Esta “intuição” fabulosa está na base da dissociação entre o
sexo e o género que hoje é imposta à Escola. Hoje, não falta quem esteja
disposto a dizer que não existe binarismo sexual, mas sim um regime de
sexualidade obrigatória que é preciso subverter. Por isso, Monique disse que “a
mulher não existe!” e convocou as feministas a destruir o conceito de mulher
natural, para que os homens não as possam dominar.
É claro que [ainda] basta um mero olhar para dizermos que
estamos perante um homem ou uma mulher. Nós sabemos que há mulheres e homens,
mas os Estados já não vêem isso e já actuam como se essas teorias fossem
científicas e irrefutáveis. Alguns exemplos concretos:
Em 2017, um adolescente transexual [um rapaz] ganhou uma
competição na categoria feminina de atletismo.[2]
Em 2018, na Argentina, o Sérgio fez 60 anos e deu-se conta
de que as mulheres se reformam aos 60 e os homens aos 65 anos. Portanto, o
Sérgio, só por ter nascido homem - e a não ser que seja verdade que “não se
nasce mulher “chega a ser-se” e ele possa chegar a ser uma mulher - teria que
trabalhar mais 5 anos. Mas, há uma boa notícia para: Na Argentina, tal como cá
em Portugal, existe uma lei da Identidade de Género, que diz que a identidade
sexual da pessoa é determinada pela identidade de género e que essa identidade
é determinada pela auto-percepção de cada um. Assim, e como “a mulher não
existe”, o Sérgio só precisou auto-perceber-se como mulher para ser uma mulher
diante do Estado Argentino. No dia dos seus anos, o Sérgio foi ao registo
civil, “mudou “ de sexo e reformou-se aos 60 anos[3].
2018, Ângela Ponce foi a Miss Espanha transgénero [homem
biológico] que competiu no concurso Miss Universo e gerou controvérsia.[4]
2021, Halterofilista Laurel Hubbard foi a a primeira mulher
trans [homem biológico] nos Jogos Olímpicos de Tóquio.[5]
Este ano, no México, devido à lei da paridade de género,
houve 17 casos de candidatos homens que que se apresentaram como mulheres
transgénero[6]
” para obterem melhores cargos políticos.
Não faltam casos de mulheres a serem vencidas e humilhadas -
por homens biológicos - nas mais diversas competições desportivas. Todo o
terreno conquistado pelas mulheres, no desporto, está em risco por causa de uma
ideologia totalitária transformada em lei. O despacho 7247/2019 já coloca
homens na casa de banho das mulheres, bastando para isso que se auto-determinem
como mulheres. Já pesquisou casos e violação por causa destas políticas?
[1]
O Segundo Sexo "On ne naît pas femme, on le devient" ("Não
nascemos mulheres, tornamo-nos mulheres")
[2]
https://infovaticana.com/2017/06/08/adolescente-transexual-gana-una-competicion-la-categoria-femenina-atletismo/
[3]
https://www.clarin.com/sociedad/polemica-sergia-lazarovich-podra-jubilarse-anos-mujer_0_HykLoVtzm.html
[5]
https://www.dn.pt/desporto/toquio-2020-halterofilista-laurel-hubbard-vai-ser-a-primeira-mulher-trans-nos-jogos-olimpicos-13857380.html
[6]
https://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-44052423
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