Finalmente, alguém que, não sendo do Chega e não gostando do Chega, é intelectualmente honesto. Parabéns, Vasco Lobo Xavier
"Eu não sou do CHEGA porque não gosto do partido, do seu programa e do seu líder. E não voto nele porque gosto imenso de outro partido e de outro programa, ainda que o actual líder me tenha desiludido bastante nos últimos meses.
Mas percebo quem goste e vote no CHEGA. Já compreendo menos o ostracismo a que o CHEGA é votado e a forma como é tratado pela comunicação social e pelos comentadores, geralmente centralizados no Terreiro do Paço e arredores, e que a meu ver é contraproducente.
O CHEGA é a favor da prisão perpétua, é certo, mas chamar-lhe fascista por isso, como há pouco vi, num zapping, um comentador fazer, é disparate ou burrice. A prisão perpétua, nos seus diferentes moldes, não é apanágio nem privilégio único das ditaduras comunistas: existe em inúmeras democracias e logo aqui ao lado, já em Vigo ou Badajoz. Não é um tema sobre o qual eu tenha perdido muito tempo mas, dado o tipo de criminosos e crimes que vejo por aí, não me ofenderia completamente que existisse em Portugal a pena de prisão perpétua (não a irredutível) para determinados crimes (ou cumulação de crimes) e criminosos. É defensável ou criticável mas trata-se apenas de uma questão jurídica e política, nada mais. Nada tem de fascista ou de comunista ou de outro “ista” qualquer.
A castração química incomoda-me, ainda que para pedófilos recorrentes, por de certa forma a considerar como uma mutilação do corpo humano. Mas não existe só na Rússia: em muitas democracias europeias ela está prevista ou permitida. Na minha opinião, a pedofilia é a coisa mais miserável, nojenta e censurável que existe, pior que o homicídio. Violentar a inocência infantil não tem perdão. Mas, mesmo não concordando com ela, se a castração química for aplicável apenas com o consentimento do pedófilo ou mesmo a seu pedido, como acontece em muitos países, que razão há para criticar? Se se defende que as pessoas possam pedir para serem mortas, como se pretende com a eutanásia (sem que se apelidem de fascistas ou de nazis ou de comunistas os seus defensores), que razão existirá para negar a um pedófilo que considera não se conseguir conter o pedido ou o consentimento para ser castrado quimicamente?
Eu não sou a favor, mas percebo que haja quem defenda tal solução e que a mesma seja discutida. Discutiu-se (e permitiu-se) a possibilidade de abortar um ser vivo saudável no ventre de uma mulher, apenas porque quer; discutiu-se (e pretende-se permitir com a eutanásia) a morte de um ser vivo apenas porque quer; depois disto, discutir-se a castração química de um pedófilo porque pede ou consente em tal coisa parece-me coisa menor. Ainda que não concorde, sublinho.
Diz-se que o CHEGA apela à discriminação de etnias. Eu sou contra a discriminação de etnias. Eu sou contra qualquer discriminação. Eu sou contra a discriminação dos fumadores, dos bebedores, dos caçadores, dos pescadores, dos mentirosos, dos amantes da carne vermelha, do sal no pão, do sal em geral, do açúcar, contra a discriminação dos amantes das corridas de toiros ou de galgos, dos jogadores de golf, dos corredores de automóveis e de tudo o mais que se possam lembrar, até dos roedores de unhas (embora tenha pouca paciência para os perdigoteiros, principalmente com mau hálito e muito particularmente se tendem em falar em cima dos outros). Eu sou até contra a discriminação dos vegan, vegetarianos e dos apoiantes do PAN: cada um é como quer desde que não incomode os outros. Mas há questões que têm de ser enfrentadas e tratadas, não podem ser varridas para debaixo do tapete.
Para lá do Terreiro do Paço e dos gabinetes das Universidades (que os Bloquistas ocuparam) existem problemas sérios no país com grupos de pessoas, não interessa quais sejam. Se são grupos de caucasianos ou não, se são brancos, pretos, amarelos ou azuis, se são portugueses de gema ou não, isso não importa: importa antes enfrentar e resolver os problemas que afligem as populações. Não o fazer porque os grupos de pessoas são compostos por brancos, pretos, azuis ou amarelos, fulanos, beltranos ou ciganos, isso sim é que é racismo ou xenofobia, para além de uma abstenção do Estado nas funções que deveria desempenhar. O país não pode recusar-se a constatar, enfrentar e resolver problemas que existem no seu seio, e que afectam os seus, por ter medo de ser considerado xenófobo e racista por um punhado de Bloquistas e Socialistas mais esquerdistas (não incluo aqui os Comunistas porque estes sabem muito bem o que se passa no interior Alentejano, ou na Beira Interior e até em Trás-os-Montes).
Isto parece-me evidente e o CHEGA cavalga esta evidência porque os partidos civilizados, acobardados por gente como a malta do Bloco e as três ou quatro pessoas do Livre, amplificados pela comunicação social, esconderam os problemas e esconderam-se deles. Agora queixam-se mas foram esses partidos, que andaram a assobiar para o lado, sem fazer nada, sem constatarem e enfrentarem os problemas, que ofereceram o palco ao CHEGA. O CHEGA chegou e está a utilizá-lo e a servir-se dele, está no seu direito: em terra de cegos, quem tem um olho é rei.
Reitero: eu não gosto nem voto no CHEGA, mas percebo quem goste e vote. Não percebo é o modo como alguns sectores insistem em tratá-lo, ou às questões que trata, e que só o beneficia.
Isto tudo parece-me tão evidente que até tenho vergonha de o escrever…”
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