terça-feira, 11 de janeiro de 2022

Dizem eles

 “O Chega não tem quadros” dizem eles. E para eles os quadros são aqueles conhecidos, as luminárias que no PS, no PSD e no CDS trouxeram Portugal até à quarta maior dívida do mundo em percentagem do PIB. E eu respondo: o Chega tem quadros, tem. Não tem é esses quadros que toda a gente conhece e a quem devemos o estado a que chegámos

“O Chega não tem propostas” dizem eles. E para eles as propostas são aquele amontoado de lugares comuns que recheiam os sucessivos programas eleitorais do PS, do PSD e do CDS e que nunca são cumpridos. Não conheço nenhum programa do PSD ou do CDS em que, por exemplo, se não prometa uma baixa de impostos. Mas todos os governos do PSD, a solo ou com o CDS a abrilhantar, aumentaram os impostos. E eu respondo: o Chega tem propostas, tem. Mas essas propostas são diferentes e são para cumprir.

“O Chega é contra o sistema, logo contra o regime, logo é contra a Democracia” dizem eles. E eu respondo: a Democracia, na sua mais fiel e tradicional definição é o “Governo do povo, pelo povo e para o povo”. E essa democracia nós defendemos. Não defendemos é o sistema que se apoderou desta democracia e a transformou no “governo do povo, por uma pequeno-burguesia envernezida, e para os bolsos dessa pequeno-burguesia envernizada.” Somos contra o sistema porque somos democratas, e queremos repor a democracia afastando os que dela se estão a servir em proveito próprio. Em Portugal, a Democracia tem de ser, finalmente, o governo do povo, pelo povo e para o povo.

“O Chega é composto por um bando de ignorantes, grosseiros, rústicos e pouco civilizados” dizem eles. Mas, ao fim e ao cabo, quem são eles? São os tais pequeno burgueses que se apoderaram do regime e o transformaram num mero aspirador do dinheiro dos contribuintes, canalizando esse dinheiro para os seus próprios bolsos. Eles autodenominam-se a elite e consideram-se cultos e civilizados, mas não passam de arrivistas engraxados (com cera líquida) e envernizados (com verniz demasiado fino e demasiado brilhante). Eles foram buscar o seu pseudo-estatuto às lojas de moda do pronto-a-vestir e do pronto-a-pensar, condimentando isso com a passagem rápida e enfastiada por meia dúzia de exposições da Gulbenkian e com um dormitar furtivo nas sessões mais badaladas da Cinemateca.

Sim, quem são eles? Eles são os barões dos partidos do “arco da governação”, os residentes nas inúmeras noites televisivas de má língua, os humoristas de vão de escada guindados ao prime time das televisões de sinal aberto. Eles são os comentadores disto e daquilo, os colunistas das inúmeras “Cornetas do Diabo”, os condes de abranhos que se tomam por Churchill, os dâmasos salcedes que se imaginam Carlos da Maia.

E é esta a tão famosa “elite” política, intelectual e cultural que desdenha de André Ventura e dos militantes e simpatizantes do Chega. É desta suposta elite que saem os líderes que nos debates se tratam uns aos outros com mil salamaleques mas a quem salta logo o verniz quando Ventura os enfrenta olhos nos olhos e os faz regressar, sem mesmo precisar de falar, ao mundo que era o deles antes da camada de verniz dada pelo pronto a vestir e pelo pronto a pensar. Eles são os donos - e os profiteurs - desta Democracia e temem ver-se desalojados das inúmeras sinecuras. E daí o elefante na sala, que faz temer pela integridade dos cristais, das terrinas de Cantão e dos pratos da Companhia das Índias, tudo comprado anteontem nos antiquários da rua de S. Bento e ainda com a etiqueta do preço nos fundos . E isso, só por si, já é bem divertido, e paga suficiente pelas chatices que “eles” nos dão.

PS. E cá em casa, na Ceia de Natal, senta-se tudo à mesa, mesmo o irmão que casou com a nova rica pindérica que se doutorou na London School of Economics e o primo centrista que é tudo e o seu contrário. Pode acabar tudo ao estalo, mas no ano a seguir lá estão todos outra vez sentados. Uma verdadeira família é assim!

- Diogo Pacheco Amorim



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