terça-feira, 15 de março de 2022

Sobre as “casas feministas”

 



O Dia Internacional da Mulher, como já vem sendo hábito, deu origem a inúmeros artigos feministas, dentre os quais destaco “Casasfeministas”, que dava conta de que no País Basco e em Valência está a avançar legislação que obriga a construir casas para combater as desigualdades de género.

Num primeiro momento, pensei: Afinal, para quê tantos milhões para a causa feminista, movimentos feministas, Associações, Organizações, etc., quando bastava construir casas com cozinhas em open space, ter contacto visual com a sala, acabar com as suítes, e entrar mais do que uma pessoa, ao mesmo tempo, na casa de banho, para acabar com as hierarquias, as desigualdades e dividir as responsabilidades domésticas?

Sem dúvida, artigos como este, além de darem origem a comentários bem-humorados: «Boa ideia! Assim ela traz os chinelos e o jornal mais depressa», conseguem insultar a inteligência de qualquer pessoa que tenha dois neurónios, não tenha uma perspectiva de género nem seja militante feminista.

Tirando a ideologia socialista por detrás desta legislação, que só invade ainda mais a propriedade privada e entrega ao Estado a decisão sobre o espaço interior da casa de cada um, é caso para perguntar aos espanhóis e às feministas se nunca viram os programas de restauro de casas que dão nas TV’s.

De acordo com a internet, o primeiro conceito de open-space foi introduzido pela arquitecta francesa Charlotte Périand no final dos anos 80, portanto, não é nenhuma novidade.

Mas, a minha experiência de vida diz-me que o conceito é bem mais antigo. Entre 1965 e 1971, na primeira casa onde vivi, até aos 6 anos, a cozinha, a sala de jantar e a sala eram um espaço único. As únicas divisões com porta eram os dois quartos e a casa de banho. E não foi isso – o conceito de open space - que fez o meu pai dividir as responsabilidades domésticas. Aliás, lá em casa, elas sempre estiveram bem divididas e definidas: o meu pai trabalhava de sol a sol, para nos sustentar, e a minha mãe geria o lar. Quando ela adoecia – independentemente do espaço ser aberto ou fechado – ele fazia as tarefas domésticas. Ele viveu os últimos anos da sua vida como dono-de-casa a cuidar da mulher que prometera amar na tristeza e na alegria, na saúde e na doença, até que a morte os separasse.

Dizer que as donas de casa se sentem discriminadas e excluídas das actividades familiares só porque há paredes e portas a separar a cozinha da área de lazer… É, no mínimo, rebuscado. Se o objectivo é fazer passar a ideia de que a mulher passa o dia na cozinha, e a não ser que ela seja cozinheira de profissão, é ignorância.

O conceito de open space não pode transformar-se numa imposição estatal às famílias. Nem toda a gente gosta do conceito e de facto tem algumas desvantagens: 1) os odores dos cozinhados propagam-se pela casa toda e, se há cheiros que não incomodam, há outros, como o cheiro a fritos, que são extremamente desagradáveis e se entranham em tudo. 2) O barulho que se faz quando ligamos os electrodomésticos para fazer um batido, bater um bolo, passar a sopa e até o barulho do próprio exaustor atrapalham qualquer programa que os filhos estejam a ver ou qualquer conversa entre quem não está a cozinhar.

Finalmente, é óbvio que não é o espaço em si que muda o carácter ou a mentalidade de quem quer que seja. Por muito activismo que as feministas façam para acabar com a propriedade privada e tornar político tudo o que é pessoal, não há “casa feminista” que transforme a essência do ser humano.

Quem é que acredita na narrativa de que “quartos principais com casa de banho favorecem uma “hierarquização” indesejável”?

Quem é que delegou nesta feminista - autora destas orientações e especialista em igualdade de género – o design das casas das famílias?

Todos os quartos têm de ser iguais?

E se eu e a minha família quisermos que sejam diferentes? E se todos quiserem ter janelas para o jardim em frente, quando só um dos quartos dá para o jardim? Como pode esse quarto ser igual a um que não tenha janela para o jardim?

As casas de banho devem poder ser usadas por mais do que uma pessoa ao mesmo tempo?

A sério? Será que a ideia é ir à casa de banho com algum dos convidados? Será que a autora destas orientações nunca foi á casa de banho com o marido? Que nunca a usou ao mesmo tempo que ele? Será que tem marido? Família?

Isto de querer impor alterações à vida dos demais “aplicando uma perspectiva de género” – uma ideologia - à casa dos outros, não é diferente de querer obrigar todos os demais a ter a cosmovisão feminista de género.

E se deixassem as casas dos outros em paz?  .

Existe uma linha que nunca devia ser transposta: permitir que o governo decida aquilo que pertence à vida privada de cada um.



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