O Dia Internacional da Mulher, como já vem sendo hábito, deu
origem a inúmeros artigos feministas, dentre os quais destaco “Casasfeministas”,
que dava conta de que no País Basco e em Valência está a avançar legislação que
obriga a construir casas para combater as desigualdades de género.
Num primeiro momento, pensei: Afinal, para quê tantos
milhões para a causa feminista, movimentos feministas, Associações,
Organizações, etc., quando bastava construir casas com cozinhas em open space, ter contacto visual com a
sala, acabar com as suítes, e entrar mais do que uma pessoa, ao mesmo tempo, na
casa de banho, para acabar com as hierarquias, as desigualdades e dividir as
responsabilidades domésticas?
Sem dúvida, artigos como este, além de darem origem a
comentários bem-humorados: «Boa ideia! Assim ela traz os chinelos e o jornal
mais depressa», conseguem insultar a inteligência de qualquer pessoa que tenha
dois neurónios, não tenha uma perspectiva de género nem seja militante
feminista.
Tirando a ideologia socialista por detrás desta legislação,
que só invade ainda mais a propriedade privada e entrega ao Estado a decisão
sobre o espaço interior da casa de cada um, é caso para perguntar aos espanhóis
e às feministas se nunca viram os programas de restauro de
casas que dão nas TV’s.
De acordo com a internet, o primeiro conceito de open-space foi introduzido pela
arquitecta francesa Charlotte Périand no final dos anos 80,
portanto, não é nenhuma novidade.
Mas, a minha experiência de vida diz-me que o conceito é bem
mais antigo. Entre 1965 e 1971, na primeira casa onde vivi, até aos 6 anos, a
cozinha, a sala de jantar e a sala eram um espaço único. As únicas divisões com
porta eram os dois quartos e a casa de banho. E não foi isso – o conceito de open space - que fez o meu pai dividir
as responsabilidades domésticas. Aliás, lá em casa, elas sempre estiveram bem divididas
e definidas: o meu pai trabalhava de sol a sol, para nos sustentar, e a minha
mãe geria o lar. Quando ela adoecia – independentemente do espaço ser aberto ou
fechado – ele fazia as tarefas domésticas. Ele viveu os últimos anos da sua
vida como dono-de-casa a cuidar da mulher que prometera amar na tristeza e na
alegria, na saúde e na doença, até que a morte os separasse.
Dizer que as donas de casa se sentem discriminadas e excluídas
das actividades familiares só porque há paredes e portas a separar a cozinha da
área de lazer… É, no mínimo, rebuscado. Se o objectivo é fazer passar a ideia
de que a mulher passa o dia na cozinha, e a não ser que ela seja cozinheira de
profissão, é ignorância.
O conceito de open
space não pode transformar-se numa imposição estatal às famílias. Nem toda
a gente gosta do conceito e de facto tem algumas desvantagens: 1) os odores dos
cozinhados propagam-se pela casa toda e, se há cheiros que não incomodam, há
outros, como o cheiro a fritos, que são extremamente desagradáveis e se
entranham em tudo. 2) O barulho que se faz quando ligamos os electrodomésticos
para fazer um batido, bater um bolo, passar a sopa e até o barulho do próprio
exaustor atrapalham qualquer programa que os filhos estejam a ver ou qualquer
conversa entre quem não está a cozinhar.
Finalmente, é óbvio que não é o espaço em si que muda o
carácter ou a mentalidade de quem quer que seja. Por muito activismo que as
feministas façam para acabar com a propriedade privada e tornar político tudo o
que é pessoal, não há “casa feminista” que transforme a essência do ser humano.
Quem é que acredita na narrativa de que “quartos principais
com casa de banho favorecem uma “hierarquização” indesejável”?
Quem é que delegou nesta feminista - autora destas
orientações e especialista em igualdade de género – o design das casas das famílias?
Todos os quartos têm de ser iguais?
E se eu e a minha família quisermos que sejam diferentes? E
se todos quiserem ter janelas para o jardim em frente, quando só um dos quartos
dá para o jardim? Como pode esse quarto ser igual a um que não tenha janela
para o jardim?
As casas de banho devem poder ser usadas por mais do que uma
pessoa ao mesmo tempo?
A sério? Será que a ideia é ir à casa de banho com algum dos
convidados? Será que a autora destas orientações nunca foi á casa de banho com
o marido? Que nunca a usou ao mesmo tempo que ele? Será que tem marido?
Família?
Isto de querer impor alterações à vida dos demais “aplicando
uma perspectiva de género” – uma ideologia - à casa dos outros, não é diferente
de querer obrigar todos os demais a ter a cosmovisão feminista de género.
E se deixassem as casas dos outros em paz? .
Existe uma linha que nunca devia ser transposta: permitir
que o governo decida aquilo que pertence à vida privada de cada um.
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